Método de alteamento a montante, no
qual se constroem degraus com o próprio material de rejeito, é o mais simples e
também o menos seguro.
Por
Darlan Alvarenga e Marta Cavalini, G1

Imagem aérea mostra destruição em região afetada por rompimento de
barragem na mineradora Vale — Foto: Reprodução/TV Globo
A barragem da
mineradora Vale que se rompeu na sexta-feira (25), em Brumadinho (MG), usava
uma tecnologia de construção bastante comum nos projetos de mineração iniciados
nas últimas décadas, mas considerada por especialistas uma opção menos segura e
mais propensa a riscos de acidentes.
O método chamado de
alteamento a montante, utilizado tanto no reservatório I da Mina Córrego do
Feijão da Vale como na barragem de Fundão da Samarco,
em Mariana, que rompeu em 2015, permite que o dique inicial seja
ampliado para cima quando a barragem fica cheia, utilizando o próprio rejeito
do processo de beneficiamento do minério como fundação da barreira de
contenção.
Neste sistema, a
barragem vai sendo elevada na forma de degraus conforme vai aumentando o volume
dos rejeitos. A lama que é dispensada é formada basicamente por ferro, sílica e
água. É o método mais simples e também o mais barato.
"É o menos
seguro... (...) Uma estrutura que embute um risco não deveria nem ser
cogitada", opina o pesquisador da UFMG e especialista em engenharia
hidráulica, Carlos Barreira Martinez.
Ele explica que o
modelo é o menos seguro porque a barragem é construída em cima de rejeitos que
já foram depositados. "Estamos utilizando uma técnica de depósito de
rejeitos que embute um certo risco, principalmente quando há uma elevação muito
rápida das barragens", afirma.
País tem cerca de 130 barragens deste tipo, diz pesquisador
"Temos um
passivo de 50 anos de construção de barragens deste tipo. A velocidade de
exploração mineral aumentou muito no Brasil, faz parte da pauta de explorações
do país, e temos sido lenientes com o que está acontecendo do ponto de vista
ambiental", diz o pesquisador.
O G1 procurou a
Agência de Nacional de Mineração (ANM) para levantar o número de barragens de
alteamento a montante existentes no país, mas não obteve retorno. Segundo os
dados disponíveis no site da ANM existem hoje no país 839 barragens de
mineração, sendo que 449 deles estão inseridas na Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB).
Procurada
pelo G1, a Vale também não informou o número
de barragens construídas pelo método à montante mantidas pela empresa.
A barragem que se
rompeu em Brumadinho tinha 86 metros de altura e começou a ser construída em
1976 pela Ferteco Mineração (adquirida pela Vale em 2001). Em comunicado
divulgado neste domingo (27), a Vale informou que a barragem estava inativa,
sem receber novos rejeitos, desde 2015.
Segundo levantamento
divulgado em novembro do ano passado pela Agência Nacional de Água (ANA), o
Brasil possui 24.092 barragens de usos múltiplos, das quais 45 foram apontadas
como mais vulneráveis.
O engenheiro de
minas e especialista em geotecnia Fernando Cantini explica que o uso do próprio
rejeito na construção das barragens é o método mais difundido, em razão do
menor custo, menor consumo de energia, disponibilidade do material e facilidade
construtiva.
"Ainda é o
mais utilizado no mundo porque exige menos movimentação de terra", afirma.
Por outro lado, segundo ele, o método perde em confiabilidade em comparação aos
outros tipos de construção.
"Outro
problema é o sistema de sistema de drenagem e filtro, que é mais complexo de se
executar e monitorar", observa Cantini, que defende o uso de métodos de
construção que permitam melhor controle dos materiais envolvidos e
monitoramento dos riscos.
O que fazer com esse tipo de barragem
Também chamou a
atenção dos especialistas o fato da barragem que rompeu em Brumadinho já estar
inativa. Ou seja, não estava mais recebendo rejeitos da produção na mina.
"Ela não
recebia mais rejeitos, o que estava contendo já era um material mais seco, com
muito menos porção líquida. Em teoria, seria mais estável e muito menos
propensa a ruptura do que uma barragem ainda em atividade", destacou
Cantini.
Segundo a Vale,
estava sendo desenvolvido em Brumadinho o "projeto de descomissionamento"
da barragem – procedimentos técnicos para assegurar o encerramento da
infraestrutura e para que a desativação atinja condições de segurança e de
preservação ambiental. Nessa etapa, o material armazenado na barragem pode
ainda passar por um novo processamento, no qual os resíduos já em estado sólido
são armazenados em pilhas.
Martinez destaca
porém que o processo de descomissionamento não é simples e tem um custo
elevado, e que portanto não representa uma solução rápida para reduzir os
riscos das barragens construídas pelo método de alteamento a montante
"Temos um
passivo de bilhões de reais. Vamos ter que entrar num processo de
descomissionamento dessas barragens e tentar mitigar isso ao longo do longo
tempo. Mas é um trabalho de 40 anos pelo frente", avalia.
Saiba mais sobre as barragens de rejeitos
Como funcionam as barragens de mineração — Foto: Karina Almeida e
Alexandre Mauro/G1
O
que é
As barragens de
rejeitos de minério de ferro são estruturas construídas para armazenar resíduos
resultantes do beneficiamento, que é quando ocorre a separação do material
rico, com valor econômico, do rejeito, que é o material sem demanda de mercado.
Tipo
de barragem que rompeu
A barragem que se
rompeu usava o sistema “a montante”, que cresce por meio de camadas (geralmente
na forma de degraus), chamado de alteamento (ou elevação), feitas com o próprio
rejeito que resulta do beneficiamento do minério de ferro. O rejeito é formado
basicamente por ferro, sílica e água.
Por
que o método da montante é mais vulnerável
A mineração nesse
tipo de barragem geralmente faz uso de água para beneficiar o material,
valendo-se de grandes reservatórios. Por isso, no processamento do minério de
ferro, o rejeito tem alta umidade e característica de lama. Este modelo é o
mais barato e considerado menos seguro devido a maior complexidade de controle
de drenagem e do monitoramento da estabilidade da estrutura de contenção.
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